Detentos participam de curso ministrado por estudantes

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Projeto Segunda Chance - Educação é desenvolvido em dois presídios da Região Metropolitana de Belo Horizonte e atende a 80 sentenciados


Alunos do curso de Administração Pública da Fundação João Pinheiro (FJP) estão levando esperança e novas perspectivas a 80 detentos de dois presídios da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Por meio do Projeto Segunda Chance - Educação, 37 estudantes da FJP ministram, desde agosto, aulas de biologia, física, geografia, história, matemática, português, química e redação para uma turma de 40 detentos do Presídio Antônio Dutra Ladeira e outra de 40 detentas do Presídio José Abranches Gonçalves.

Parceria da FJP com a Secretaria de Estado de Administração Prisional e o Serviço Voluntário de Assistência Social (Servas), o projeto tem o objetivo de preparar os alunos das duas turmas para o Exame Nacional do Ensino Médio para Pessoas Privadas de Liberdade (Enem-PPL), marcado para os dias 13 e 14 de dezembro.

Com duração de três horas diárias, as aulas são realizadas duas vezes por semana e mobilizam 14 alunos da FJP para a unidade prisional masculina e 23 alunas para a feminina, além dos professores e pesquisadores da instituição que acompanham o projeto.


Reinventando o futuro

Com novas perspectivas para quando terminar de cumprir sua sentença, o detento L. L., de 21 anos, avalia de forma bastante positiva a experiência de assistir às aulas. "Estou sendo reinventado desde que fui preso. Infelizmente é uma experiência pela qual que eu tinha que passar e agora o cursinho me trouxe a esperança de conseguir me formar no ensino médio e fazer uma faculdade de administração", conta.

"Os professores são ótimos e, para quem quer aprender de verdade, as aulas são excelentes. Sem isso eu não teria como fazer o Enem, saber quais matérias vão cair ou como fazer uma redação", pontua.

O plano de ingressar em um curso superior é compartilhado com R.M.V., de 31 anos, que também pretende garantir o certificado do ensino médio e uma vaga no curso superior de teologia. "Acredito que a educação traz dignidade para a pessoa. Com as aulas, vi que é possível aprender e sonhar com uma nova vida. O cursinho está me abrindo uma porta e espero conseguir a aprovação pelo Enem e realizar esse sonho de entrar na faculdade", almeja.

Para a pedagoga Márcia Monteiro Lobato, analista executiva da Seds e coordenadora do projeto no Presídio Antônio Dutra Ladeira, esse trabalho é uma importante contribuição para o cumprimento da pena dos sentenciados.

"O cursinho tem ajudado a melhorar a disciplina desses detentos e, em consequência, sua capacidade de ressocialização e autoestima, ampliando a visão que eles têm do futuro e mostrando inúmeras possibilidades. É, de fato, uma segunda chance na vida de cada um", avalia.

De acordo com o gerente de Extensão e Relacionamento Institucional da Escola de Governo da Fundação João Pinheiro, Mauro Silveira, o projeto é uma oportunidade para os alunos conhecerem uma política pública no ambiente em que ela acontece, sem mediação.

"Nossa expectativa é que este seja um saber transformador, uma experiência que possa se transformar em conhecimento, mas não um conhecimento restrito aos cânones acadêmicos", afirma.

Silveira explica que os projetos de extensão são momentos de aprendizagem em que o estudante de Administração Pública inaugura novos olhares sobre a realidade.

"Além de uma postura participativa e interativa, amplia-se a percepção de que a ação implementada por uma politica pública atinge pessoas reais, com problemas e anseios reais e que cabe à administração ver, perceber, compreender e agir para que as oportunidades sejam oferecidas a todos, com sensibilidade especial para minorias ou fragilizados em uma sociedade que precisa ser cada vez mais democrática, pois essa é a essência do poder público", analisa.


Aprendizado mútuo

"Eu costumo dizer que participar deste projeto é, antes de tudo, um privilégio. É uma oportunidade incrível de devolver à sociedade um pouquinho do que ela investe em nós, futuros servidores públicos. É muito gratificante ser tão bem recebido em uma unidade educativa do sistema prisional para dar uma aula", afirma Andrei Gomes, aluno do 4º período de Administração Pública e coordenador do cursinho na unidade masculina.

"Com profundo respeito e perseverança, os detentos muitas vezes nos dão lições de vida, ainda que sem intenção. Trata-se de uma experiência que certamente ajuda a solidificar o nosso ethos público, o nosso compromisso com uma sociedade cada vez mais inclusiva e menos desigual", declara.

Gomes ressalta que bons resultados no Enem-PPL dão aos detentos a possibilidade de antecipar o retorno ao convívio social e, sobretudo, aumentam suas chances de reinserção na sociedade. "Um nível educacional mais elevado lhes proporcionará mais oportunidades. Esse projeto busca modificar a perspectiva de futuro dos detentos por meio da ferramenta mais poderosa disponível para isso: a educação", conclui o estudante.

Aluna do 3º período e coordenadora do cursinho no Presídio José Abranches Gonçalves, Marcela Pires define a experiência como engrandecedora. "Meu conhecimento a respeito das unidades prisionais era muito restrito e pouco humanizado", avalia.

Essa proximidade com a realidade que envolve pessoas privadas de liberdade foi muito importante para meu crescimento. Torço para que as meninas da Abranches façam uma boa prova em dezembro e completem o ensino médio, o que é essencial para que, ao fim da pena, possam ter mais chances de retornar ao mercado de trabalho com dignidade", afirma.


Resultados

O Projeto Segunda Chance - Educação teve início em 2015, com a participação de quatro estudantes da FJP ministrando por um mês aulas de redação e atualidades a 38 detentos do Presídio Antônio Dutra Ladeira.

Dos 190 presos inscritos para o Enem 2015, 20% fizeram o curso preparatório e, destes, 42% obtiveram o certificado de conclusão do ensino médio ou conseguiram uma vaga em cursos superiores. Entre os detentos que não fizeram o curso, o percentual de aprovação foi de 29%.